terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Observação


Compreendi que tinha entrado
Em sala trocada e sai
Pedi desculpa, foi errado
Sem querer, conclui.
Sempre fui “outside”
Sempre do outro lado da linha
Sempre tive essa dor só minha
Que me tem incomodado.

Nasci sem livro de instruções,
Sem marca, provavelmente
Para a avaria não há soluções,
Nem peça sobressalente

Dói-me a cabeça na alma
Tenho o corpo a dormitar
Pode ser que nesta calma
Possa os olhos fechar

Acho que vou até à serra,
Para ter saudades do mar,
Quando se tem uma quimera
Ajuda o tempo a passar

Assumo, vou-me arrastando
Fingindo até que sou eu
Alguns dias funcionando,
Outros, alguém que se perdeu.

O Improvável


Este sofrimento em que te deixo
Sempre que vou a algum lado,
Não entendo, nem me queixo
Parece-me estranho… deslocado…

Essa falta de coragem
De ser feliz
Esse meio termo, esse…
Quase a nós,
Não inspira, aflige,
Ao contrário do que se diz…

Porque os dias onde de ser…
Apenas nublados…
Porque nos ferimos
Apenas aos bocados…

Porque será pecado
Apenas estar demasiado bem comigo?
Não percebo, não entendo, não consigo!

Porque não admites?
Acertamos!
Porque procuras a sombra?
O Improvável aconteceu
Por isso nos amamos.

Tu pensas que és forte
Mas és fraco, impreciso…
Titubeante e louco
A tua bússola perdeu o norte
A dúvida levou-te o juízo
Para ser feliz faltava pouco

Um pouco de esperança,
Um pouco de ternura
Um pouco de luz
Daquela que perdura…
Quando olhares para trás, verás…
Aqui era o improvável
O incerto maravilhoso
O Insustentável!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Monólogo Marítimo


Comandante está na hora de voltar proa ao navio
Velocidade é constante, há tempestade e frio…

Haveremos do fazer, mas a lua inda ressuma
No alto azul nordeste aguarda que ela se consuma.

Comandante está na hora de parar, de recuar
Estes passos não nos levam a porto de amarar

Havemos de o fazer, com força de coração
Mas abranda, Oh marujo, essa tua decisão

Comandante não é audácia o que eu trago comigo
São dores antigas, senhor, apagar eu não consigo

Havemos de as tratar, suturar e não esquecer
É no mar que este padecimento irá se dissolver

Comandante põe sentido no rasto que fazemos
De madrugada sangra o mar para que nos libertemos

Sangue já nós fizemos de onde vimos e onde vamos
Nossas dores são daqueles que nós aniquilamos

Comandante é hoje a hora, toma tento… pressente
Vem no nosso encalço borrasca grossa do poente

Tens medo, oh marujo! Vai e morre cobarde
No meu navio não cabe detenção mole arde!

Comandante fero vede quem tendes ao lado
Olhai que por ti eu abalei sina, moira e fado

Não me fales, oh marujo, de antigas lealdades
Retém benquerenças só novas sinceridades

Comandante que assim dispões do nosso destino
Leva a bom porto este barco não te dê o desatino

Confia e aguarda, sonha que nasce e anuncia
A clara alva de um caminho que trará o novo dia!

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